Uma geração conectada ao mundo e desconectada de si
O ser humano não nasceu para viver inerte. Nasceu para o movimento. Para sentir o corpo e a alma conectados
Por
Chico Salgado
11/10/2025 03h01 Atualizado agora
Em um mundo recheado de conexões, vivemos uma era cada vez mais desconectada de si mesma. Uma geração intensamente conectada ao mundo virtual e a mais sozinha de todas.
Adolescentes e jovens ligados ao mundo inteiro, e ainda sim, completamente sozinhos. Falam com quem querem, ganham likes de pessoas que nunca nem viram, e ainda assim, continuam verdadeiramente sozinhos.
A palavra solidão vem do latim “solus”, “solitarius”, e significa aquele que está isolado. A solidão se tornou o novo silêncio de uma geração que está continuamente se expressando, e o mais triste, é que isso não acontece por falta de palavras, mas porque quase ninguém escuta de verdade.
Nós somos seres pensantes, sociais e de linguagem, é impossível vivermos em plenitude na solidão. Essa geração ainda não conseguiu perceber que nem consigo mesmo ela está. Ao esquecerem de si mesmos, jogam fora seus dias, sua saúde, disposição, vitalidade, disciplina e tantos atributos que poderiam estar em constante evolução e transformação.
O que antes era brincadeira na praça, na rua e no campo virou tela. O futebol com os amigos, a corrida na grama, o pique-esconde foi facilmente substituído por grupos de WhatsApp, minecraft, jogos online e séries ao sofá. O corpo que antes passava quase o dia todo se exercitando, brincando, pulando e correndo, agora, se mantém imóvel em frente às telas. A mente? Cada vez mais ansiosa, preocupada e estressada. Sente falta de contato, do suor das brincadeiras compartilhadas, do riso que atravessava o peito.
O sábado de sol era feito de partidas improvisadas na beira da praia e gargalhadas ao ar livre no quintal. Hoje, são encontros virtuais que não aquecem. A paciência, a perseverança e a calmaria, e tantas outras virtudes do brincar, do esporte, da atividade física, do movimento, se tornaram relíquias.
O fim da pandemia deixou isso mais claro, uma solidão que já existia, mas que crescia de modo silencioso dentro das pessoas. O movimentar-se foi sendo deixado de lado e esquecido. O resultado? Corpos parados, mentes cansadas, menos esportes, menos energia – mais solidão.
O que deveria ser usado como um incentivo, como os grupos de WhatsApp, para promover encontros caloroso acabou se tornando só mais uma tela no meio da vida real. Vivemos uma era de conexões, e ao mesmo tempo, uma era de desconexões. Por isso, tantos adolescentes parecem bem, mas carregam um vazio que não sabem explicar. É por isso que estão cansados antes mesmo de viver.
O digital ensinou a parecerem fortes, mas não a serem inteiros. Mas o ser humano não nasceu para viver inerte. Nasceu para o movimento. Para rir, tocar, abraçar, correr, pular, dançar, mexer, brincar. Para sentir o corpo e a alma conectados. A saúde física e mental depende disso.
Desligar o celular, olhar nos olhos, correr na rua sentindo o vento, jogar bola, levantar peso, brincar. Nada substitui isso. Nem notificações, nem chamadas de vídeo, nem grupos online. Quem sabe o caminho para sair dessa epidemia de solidão seja voltar a fazer o básico. Voltar às praças ao fim do dia, aos esportes, à natação, às brincadeiras na rua, à praia aos finais de semana. Voltar ao olho no olho, ao riso inesperado, ao abraço demorado, ao silêncio confortável de quem não precisa fingir nada.
Nossos adolescentes precisam aprender, e quem deve lembrá-los somos nós, que a vida acontece, principalmente, DEPOIS da tela, para ALÉM e FORA da tela.
A vida acontece entre pessoas e ela é sobre pessoas que se movimentam, se encontram, gastam energia e fazem tudo acontecer. Nas caminhadas ao ar livre, nas corridas na esteira, nos nados sincronizados, nas danças coreografadas, nos jogos de futebol, nas aulas de judô e jiu-jitsu que desenvolvemos resiliência. Para evoluir, precisamos de um parceiro de treino, conversas ao vivo, encontros demorados.
Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/espiritualidade-e-bem-estar/post/2025/10/uma-geracao-conectada-ao-mundo-e-desconectada-de-si.ghtml
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